Este blogue consta de uma compilação de retratos da natureza e intervenção humana em ambiente rural e urbano que O Cidadão abt vai capturando com a sua objectiva durante as caminhadas, será despejada neste blogue de muitos pixeis e poucos bitáites, dando ao ciberleitor a possibilidade de clicar sobre cada uma das fotos e de seguida na tecla F11 para melhor as poder desfrutar em ecrã total... Ligue o som e... passe por bons momentos!



sexta-feira, 20 de junho de 2014

TERRAS DO XISTO I

A subida é séria. O sol enrijece. O suor encharca a camisola. A garganta resseca... 
Há que caminhar pelas sombras das árvores que se interpõem no caminho para assim contornar os 37 graus que queimam a pele...
Eram dez horas da manhã e mais quatro pela frente, sem alguma actividade...
A ideia surgiu espontânea, isolada, num daqueles inesperados momentos que nos forçam o vazio e entre o ficar esparramado sobre a cadeira da esplanada, lendo o jornal e apreciando as mulheres travadas de passos fatais cujos sorrisos nos cativam emoções, ou meter pés ao caminho na senda do horizonte, evidentemente que a segunda hipótese seria bastante mais arrojada e conforme ao espírito do bom caminheiro.





Só a aguçada naifa, a carteira, as calças negras de ganga gasta, o pólo verde-escuro, o boné no mesmo tom, o bornal a tiracolo e a digital faziam companhia...
Podia ser que sim, que encontrasse uma fonte ou um qualquer tasco algures no PR8- PNV onde pudesse trocar aconchegar o estômago...
Mas não. Naquele dia e àquela hora, a hospitalidade era ingrata.
Nem vivalma...
Nos campos e nas aldeias...
Tudo encerrado em casa, toda a gente recolhida, esquivando-se do calor...




Só o silêncio, o restolhar da folhagem tocada por breves lufafas de brisa, o grasnar dos corvos vigilantes vergastando as copas das árvores e uma por outra ave de rapina pairando bem lá no alto faziam companhia ao caminhante... de quando em vez,  o aroma das estevas, da urze,  do rosmaninho, e do fundo do cavado vale, um cheiro a putrefacção...



Andando e encontrando o velho lagar, cercado de silveiral, o rápido da ribeira e a nora do poço completavam aquele quadro bucólico...


Mais adiante, a pequena ponte romana vencia o curso de água cristalina que serpenteava entre rochas e vegetação rasteira...


Os muretes de xisto colocado a cutelo ajudavam a reter as margens da Ribeira da Figueira, bem como a sua avantajada largura permitiria a circulação das pessoas com os seus haveres agrícolas, e conduziam o precioso líquido pelas estreitas levadas...



Subindo o trilho inflectido à esquerda e rumando a Norte, logo o horizonte se nos revelava o parque eólico da cordilheira das Corgas, uma parte da  Serra das Talhadas, avistando-se o branco casario do Pereiro a meia encosta.



Quinze minutos vencidos e a direita do caminho  presenteou uma alminha, nicho de romarias e devoção cristã, ornamentado a flores artificiais...

Sempre andando, e uma vez que o tempo parecia sobrar, foi hora de fazer um pequeno desvio ao trajecto proposto no PR 8 e subir cerca de um quilómetro na direcção ao pequeno casario dos Sesmos...




aí destacando-se uma linda habitação reconstruida em xisto...


Pelo rescaldo desta caminhada, na “Loja da Aldeia,” estabelecimento que funciona como restaurante, café e mercearia da povoação da Figueira, enquanto refrescava a ressequida garganta com  duas stout geladinhas, em amena cavaqueia com duas residentes que tomavam café n a mesma mesinha, explicaram que Sesmos é a terra das cerejas, percebendo  cá o Cidadão que este epítetoafinal  não se cinge a Alcongosta nem sequer à Serra da Gardunha.
Já à distância se fazia ouvir o repicar dum sino anunciando as 13 horas, quando a partir de Sesmos se retomou o trilho do Caminho do Xisto de Figueira, rumo à povoação do Pereiro que sobre as copas das árvores, se mostrava longínqua...
Aldeia onde houve oportunidade de fotografar alguns dos palheiros que abrigavam os tradicionais carros de bois... 
Durante todo este trajecto, de gentes, nem vivalma... 
A água da fonte mostrava-se duvidosa e antes ter de passar um bocado de sede, que sofrer uma gastroenterite...
Só dois cães de basto pelo e grande porte se atalharam ao caminho, ladrando furtivamente... Foi altura de mui discretamente preparar os 15 aguçados centímetros da naifa, pese escondida, não fosse por lá os cães trazerem as ideias fixas...  
Aparentemente fartos de carnes, um indício tranquilizador de que seriam bem alimentados...
Não deixar que o medo se apodere de nós para que não produzamos odor a adrenalina, agachar, primeiro com atitude cabisbaixa e depois, olhando directamente nos olhos do líder e verificando se as caudas subiam acima do nível do lombo, abanando em gancho.
Esticar suavemente a mão em direcção ao focinho do mais próximo, acariciando-lhe o focinho bem  acima do nariz...
A tal técnica de sedução voltou a funcionar na perfeição, assim se fazendo mais dois amigos de quatro patas...
Num dos pátios sombrios a um nível mais elevado que o caminho, o primeiro humano encontrado durante esta caminhada, observava estático. 
E o Cidadão dirigiu-lhe a palavra...
“Boa tarde... Aqui é que é o Pereiro?!”
O individuo forte, de cabeleira fartamente encaracolada e aparentando as suas trinta primaveras vividas,furtivamente  por duas vezes retorquiu...
“O quê? O quê?”
E aquele estranho residente, virando-se em sentido contrário, raspou-se para dentro de casa, cuja porta bateu violentamente, deixando a aldraba em franca oscilação...
Mais umas fotos tiradas à romãzeira que se destacava no pátio... 
Pois de romãzeiras, gerânios...

 malvarosas, alfazema...
 malmequeres amarelos...
 e roseiras...

não era esta povoação pródiga...
 Com o calor cada vez mais implacável, penosamente foi o caminheiro subindo o povoado...

Inflectindo a Sul, foi apanhando um pequeno troço de alcatrão cujas ondas de calor induziam o caminheiro em erros de paralaxe.
Lá bem ao longe avistava-se o campanário da igreja das Moitas aflorando entre s copas das arvores que tolhiam o horizonte... 
e a Sudoeste,  as escarpas do Almourão escondiam o Vale do Ocreza e as Portas de Ródão...
Bateram 14 badaladas quando, sempre a descer pelo trilho rudimentar...



 o viajante cruzou por um abrigo algo peculiar...
e atravessando outro pequeno pontão que vencia a ténue Ribeira da Figueira, 



se lhe seguiu outra subida bem íngreme, disputada passo após passo, metro após metro, sob Sol escaldante, na direcção à Aldeia de Xisto, sem que de permeio houvesse uma buchinh, ou sequer uma pinguinha de água potável para enganar o estômago e refrescar a garganta ressequida...


Indo este post bastante extenso, as fotografias da aldeia do xisto seguir-se-ão na próxima publicação...

1 comentário:

Maria Marques disse...


Estas lindas imagens comprovam que Portugal tem recantos encantadores que vale a pena visitar.
Um abraço